"CIDADÃOS VIGILANTES CONTRA O ÓDIO": Como combater a apatia das testemunhas e aumentar o compromisso dos cidadãos contra o discurso de ódio online?
Entidade promotora /financiadora
Fundação “la Caixa” e Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) (ref: La Caixa Social Research Call 2020 SR20-00136).
Entidade de acolhimento
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), Laboratório de Psicologia Social.
Principal objetivo do
projeto VigilHate
Este projeto aborda um desafio social chave que enfrentamos em todo o mundo: como prevenir e combater o discurso de ódio online, em particular contra os imigrantes. Especificamente, este projeto centra-se no papel dos cidadãos comuns que testemunham passivamente o discurso de ódio sem o reportar. Tal comportamento passivo contribui para obscurecer a real magnitude destes crimes e para legitimar e perpetuar informalmente a sua ocorrência. Assim, o objetivo deste projeto é estudar e testar mecanismos para aumentar a autorregulação moral no sentido de monitorizar e denunciar o discurso de ódio online, capacitando os cidadãos sobre a sua responsabilidade no processo de denunciar o discurso de ódio online, diminuindo a apatia do espectador. Esperamos que este projeto contribua para a promoção de uma utilização mais responsável das redes sociais, com maior preocupação com o respeito pela dignidade humana, a justiça social e os valores democráticos.
Relevância social do
projeto VigilHate
O discurso de ódio online tem consequências graves, tanto a nível individual como social. Com efeito, para além dos efeitos no bem-estar psicológico das vítimas, enormes custos sociais, como a normalização da discriminação, intolerância, polarização e violência entre cidadãos, podem ser consequências deste fenómeno, ameaçando a coesão social, bem como o respeito pelos valores fundamentais europeus. No entanto, o discurso de ódio online é altamente difícil de detetar por muitos motivos, e é quase impossível saber a real extensão de tais crimes. Consequentemente, torna-se difícil agir de forma eficaz contra eles. Apesar da preocupação das autoridades nacionais e internacionais em criar medidas preventivas e de combate, os mecanismos institucionais de controle social existentes têm mostrado ser ineficazes ou pelo menos insuficientes, visto que o fenómeno parece estar a crescer e a agravar-se. Além do papel dos infratores (ou seja, o autor do mau comportamento) e das vítimas no agravamento deste fenómeno (por exemplo, ao não denunciarem o caso), enfatizamos a importância e o papel determinante de uma terceira parte implicada: as testemunhas ou espectadores. As pessoas que testemunham estes crimes não são responsabilizadas e, frequentemente, não se sentem socialmente responsáveis por denunciá-los. Este comportamento “silencioso” das testemunhas é socialmente, politicamente e legalmente negligenciado, não é discutido socialmente, as pessoas não estão cientes da sua existência, do seu próprio comportamento preconceituoso e das consequências deste preconceito para a sociedade. A maioria dos projetos e programas de intervenção para prevenir e combater o discurso de ódio online concentra-se nas vítimas - para encorajá-las a denunciar - ou nos criminosos - para desencorajá-los de tais práticas. No entanto, pouca (ou nenhuma) atenção foi dada aos espectadores, ou seja, àqueles que, passivamente ou não, testemunham o mau comportamento online. Ao deixar de denunciar o discurso de ódio online, os cidadãos estão a contribuir, indiretamente, para legitimar e perpetuar a sua ocorrência e para o uso indevido das redes sociais, uma vez que o “silêncio consente”. Na verdade, tal comportamento passivo ou não-intervencionista de espectador pode representar, por si só, uma prática indireta, mas não menos consequente, discriminatória contra grupos socialmente vulneráveis. Assim, pretendemos incentivar os cidadãos comuns a serem vigilantes comprometidos e espectadores ativos contra o discurso de ódio online, contribuindo para a promoção de um uso mais responsável das redes sociais.
O projeto envolve:
a) a criação e validação de uma escala para medir a tendência dos indivíduos para a apatia vs. motivação para agir perante o discurso de ódio online. Esta escala deve medir a motivação para denunciar (através de mecanismos formais e informais) discurso de ódio online contra imigrantes, bem como a motivação para se envolver em comportamentos de ajuda em relação à vítima, seja diretamente (por exemplo, falando com vítima) ou indiretamente, confrontando os ofensores; b) o estudo de potenciais determinantes (preditores e moderadores) das atitudes dos espectadores em relação ao discurso de ódio dirigido aos migrantes; c) o estudo da eficácia de mecanismos internos (e.g., autorregulação moral) e mecanismos externos de controle social para diminuir efetivamente a apatia do espectador em relação ao discurso de ódio online, promovendo o auto monitoramento e reporte de maus comportamentos online (e/ou apoio à vítima). Propomos testar a eficácia de cinco determinantes específicos que a literatura tem mostrado serem potencialmente eficazes para estimular a autoconsciência e a autorregulação moral, diminuindo o efeito de espectador face a discurso de ódio: 1) autoeficácia e eficácia coletiva; 2) tomada de perspetiva; 3) saliência de normas e políticas anti discriminatórias; 4) saliência de direitos humanos; 5) atribuição de estatuto heroico. Propomos ainda estudar de que forma estes mecanismos são potenciados por fatores contextuais (e.g., frequência e tipo de uso de redes sociais, acessibilidade de mecanismos de controlo social, etc). O foco no espectador é a grande novidade do nosso projeto. Propomos que a estimulação do controle social interno dos cidadãos (por meio de autoconsciência e autorregulação moral) pode ser eficaz para aumentar o compromisso das pessoas em combater e denunciar o discurso de ódio online, deslegitimando este comportamento e tornando-o inaceitável.